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Empresa ligada ao americano Al Gore investirá em descabonização no agro do Brasil

A firma de private equity Just Climate, criada pela gestora de Al Gore, a Generation Investment Management, e liderada no Brasil pelo empresário Eduardo Mufarej, quer levantar recursos para investir em negócios que reduzam as emissões de gases de efeito estufa no campo. Para isso, está desenhando uma estratégia que envolve aportes em empresas que forneçam produtos e serviços “verdes” aos produtores rurais, no curto prazo, e no impulso a projetos de restauração florestal no longo prazo.


A estratégia foi apresentada por Mufarej e seus sócios na firma, Clara Barby e Schaun Kingsbury, em um encontro com jornalistas nesta sexta-feira (15/3) em São Paulo, onde a Just Capital instalou seu segundo escritório, além de Londres. O brasileiro é responsável por liderar a estratégia de soluções climáticas naturais (NCS, na sigla em inglês), que envolve negócios em agricultura e florestas - área conhecida no mercado de carbono como AFOLU, da sigla em inglês.


A Just Climate já atua em cinco empresas de soluções climáticas industriais (ICS, na sigla em inglês). Para os aportes já realizados, a firma levantou US$ 1,5 bilhão em uma rodada de captação que contou com recursos de fundos de pensão dos Estados Unidos e do Canadá, fundos soberanos asiáticos e family offices. E, para a estratégia de NCS, a firma quer fazer mais uma rodada de captação de recursos.


Clara Barby lembra que o setor industrial e o setor agroflorestal são responsáveis juntos por 60% das emissões globais, mas recebem uma parcela menor do capital voltado para soluções climáticas. Segundo Kingsbury, a proposta da Just Climate é atuar “onde as emissões estão”.


“E a agricultura representa um quarto do problema e um terço das soluções”, diz Mufarej, co-diretor de investimentos da Just Climate. Nessa estratégia, o Brasil não tem como ficar de fora, já que é o maior país agrícola, justifica. Por isso, a Just Climate escalou um time no escritório de São Paulo para prospectar e avaliar negócios “verdes” para o agronegócio no Brasil, e também em outros países em desenvolvimento, centrados no “Sul global”.


Ele observa que as tecnologias que hoje muitos produtores rurais brasileiros já adotam em suas terras são produzidas nacionalmente, mas avalia que há dificuldades na distribuição, no acesso ao produtor e na competitividade no mercado, por exemplo. Ele cita exemplos de indústrias que já têm soluções comerciais para uma agricultura “verde”, como o setor de bioinsumos e de agricultura de precisão e lembra que, ainda que já existam muitas soluções em desenvolvimento, falta ganharem escala.


Diferentemente de outros investidores que atuam com soluções climáticas, a ideia da Just Climate é focar apenas em negócios verdes “nativos”. Ou seja, nada de apoiar fornecedores tradicionais do agronegócio, como grandes químicas que possuem negócios “verdes” em suas corporações. “Não queremos conflito de interesses”, assegura.


Ainda que a característica “verde” seja fundamental, Mufarej ressalta que, antes de tudo, é preciso que o negócio forneça ao produtor uma vantagem econômica, seja de redução de custos, seja de melhora da produtividade. Segundo ele, a Just Climate vai focar em oportunidades que “sejam boas para o produtor, para o clima e para o mercado”.


Ele disse esperar que o primeiro investimento na área de NCS saia ainda neste ano. Para a escolha dos negócios, Mufarej diz estar contando com um aparato científico e de pesquisas acadêmicas para garantir que as soluções também façam sentido financeiro: “somos muito precisos e matemáticos”.


A firma também tem em vista investir em projetos de restauração florestal, que está se tornando um alvo importante de investidores internacionais interessados em projetos que compensem emissões de setores de difícil descarbonização.


Mas ele reconhece que esse caminho não é tão simples. “Temos um problema fundiário grave, principalmente na Amazônia”, lembra. Além disso, é um ramo em que os investidores envolvidos até agora apostam em um preço futuro do carbono no mercado voluntário que ainda não se provou. Mufarej acredita que essa é uma indústria que ainda precisa amadurecer e que aportes da Just Capital nessa área devem levar mais tempo.



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