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Cinco lições para investidores no caso Elizabeth Holmes


Um dos processos judiciais mais emblemáticos do Vale do Silício chegou ao fim ontem à noite. Após 15 semanas de audiência, o júri considerou a fundadora da Theranos Elizabeth Holmes, de 37 anos, culpada por fraude e conspiração. A jovem executiva que prometeu realizar exames de sangue com maior precisão e agilidade, usando apenas algumas gotas de amostra, e levantou quase US$ 1 bilhão com investidores, pode ser condenada a até 20 anos de prisão. O caso mostra que as práticas de investimento no Vale do Silício podem se beneficiar de mais normas e exigências na validação dos negócios. O Financial Times traz cinco lições deixadas pelo caso Theranos a empreendedores e gestoras de venture capital - que deveriam ser o beabá nos investimentos, mas são deixadas de lado na euforia de liquidez. A proposta não é ser engenheiro de obra pronta, mas mostrar como os sinais já estavam no caminho. A primeira delas é manter o ceticismo científico. Quando Holmes afirmou que conseguiria realizar centenas de testes para doenças com apenas algumas gotas de sangue extraídas do dedo do paciente, isso deveria ter sido provado. Especialmente quando a comunidade médica afirma que o sangue capilar, ao contrário do sangue extraído das veias, contém fluidos e células que tornam as medições menos precisas. O hype tão característico das big techs antes do lançamento de novos celulares, computadores ou óculos de realidade virtual pode até fazer parte do jogo de marketing. Numa healthtech, no entanto, prometer mais do que se pode entregar é uma questão de vida ou morte, literalmente. É o típico caso em que a companhia (independentemente do setor) conta com ignorância do investidor sobre o assunto ou a dificuldade de checagem - afinal, não dava para ir ao fundo do oceano ver jorrar petróleo da OGX, para citar um caso brasileiro de empresa novata com um bom storytelling. Eike Batista e Elizabeth Holmes declararam que foram ludibriados pela própria equipe. Sangue frio: fundadora da Theranos, a fábula do Vale do Silício, vai a julgamento Uma segunda lição diz respeito ao sigilo e à propriedade intelectual. Não é novidade que o segredo é a alma do negócio mas, uma vez registrada a patente, não há perigo justificável para impedir a testagem por universidades e colegas cientistas, além da publicação de artigos científicos sobre a tecnologia. Em terceiro lugar, carisma não é tudo. Mas o Vale do Silício parece não ter entendido isso. Holmes, uma jovem em um universo dominado por homens, criou uma imagem de sucesso, como outros antes dela. Sua personalidade atraente chegou a ser comparada com a de Bernard Madoff, responsável pelo maior esquema Ponzi conhecido da história. Não foram só os investidores: Holmes também caiu nas graças da mídia. Quarto: investidores precisam aprender a tomar as próprias decisões, sem ligar para o que dizem celebridades do mundo dos negócios. No início, a Theranos conquistou gigantes como George Shultz, Jim Mattis e Henry Kissinger (alô, SPACs!). A startup chegou a usar o logotipo de farmacêuticas como a Pfizer em seus documentos, como forma de demonstrar credibilidade - sem haver qualquer autorização ou vínculo com essas companhias. Por último, mas não menos importante, há um ditado mineiro que diz que o mal de todo bobo é achar que é esperto - e a multiplicação das pirâmides financeiras, por exemplo, está aí para provar. "Se alguma proposta parece boa demais para ser verdade, geralmente é", define o FT de um jeito mais britânico. Startups são e serão investimentos de risco, por maior que seja a diligência do empreendedor e dos investidores, e a possibilidade de perder dinheiro e tudo dar errado no plano traçado é inerente ao negócio. Mas o caso Theranos ajuda a diferenciar o que são riscos mensuráveis ou evitáveis. "Aqueles que foram enganados por Holmes se sentiram vítmas porque não demandaram respostas para perguntas óbvias", disse Michael Moritz, um longevo venture capitalist, sócio da Sequoia Capital.



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