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Apesar de movimentarem R$ 285 bilhões no primeiro semestre, apenas 30% dos M&A’s são concluídos


Além da oferta pública de ações e aportes financeiros, os M&As – fusões ou aquisições entre empresas com negócios complementares – foram mais uma saída para as companhias que desejavam expandir seus negócios. Após um ano de retração por conta do coronavírus, essas operações voltaram a ganhar força em 2021. Segundo a empresa de inteligência de mercado TTR, no primeiro semestre foram realizadas 1.169 operações do tipo no Brasil, que movimentaram pouco mais de R$ 285 bilhões – valor 19% maior do que o registrado durante todo o ano de 2020.


A Ambipar, por exemplo, foi uma das companhias que abraçou o movimento de aquisições e, nos primeiros seis meses do ano, comprou 14 empresas. De acordo com seu balanço financeiro, foram gastos R$ 1,5 bilhão para realizar essas operações. Segundo a companhia, graças à estratégia, o lucro líquido de abril a junho foi de R$ 40,6 milhões, 234,8% maior do que em 2020, quando contabilizou R$ 12,1 milhões.



Outra empresa que tem investido em M&As é a varejista Magazine Luiza. Em 2021, a companhia realizou dez aquisições, envolvendo principalmente startups como VipCommerce (plataforma de criação de lojas virtuais para supermercados), GrandChef (aplicação para gestão para restaurantes) e SmartHint (sistema de recomendação de produtos para comércio eletrônico). Uma das mais recentes operações foi a compra do e-commerce focado em games Kabum!, por R$ 1 bilhão.


“Devido às mudanças econômicas e de mercado nos últimos anos, as empresas perceberam a necessidade de crescer e modificar os negócios para manter o fluxo de capital. Por isso, muitas delas escolheram os M&As para expandir seus negócios”, explica Marcela Chacón, porta-voz institucional da TTR.


Essas transformações, no entanto, não são exclusividade das grandes companhias de capital aberto. Cada vez mais empresas de médio porte também têm usado esse recurso para fortalecer a musculatura financeira. Em julho, por exemplo, a fintech de pagamentos PicPay comprou a plataforma de gestão financeira GuiaBolso, mirando uma expansão dos seus serviços para encarar o open banking. O valor da transação não foi divulgado.


De acordo com dados levantados pela empresa de inovação aberta Distrito, o ecossistema de inovação brasileiro realizou 134 operações de fusões e aquisições até julho, 97% a mais do que o registrado no mesmo período de 2020. O setor que mais se beneficiou foi o financeiro, com 25 aquisições. O varejo chega em segundo lugar, com 22 transações, seguido do segmento de publicidade e marketing, com 17.


No setor de tecnologia, a Locaweb é uma das companhias que tem chamado a atenção quando o assunto é M&A. Capitalizada desde que abriu capital na B3, em fevereiro do ano passado, a companhia já adquiriu 11 empresas, incorporando novas soluções para o seu portfólio de serviços.


Em junho do ano passado, quando a Locaweb tinha comprado já seis empresas, o CEO Fernando Cirne, em entrevista à Forbes, falou sobre os desafios da estratégia de M&As. “É um grande desafio, para mim em particular, gerir inúmeras frentes [de negócio]”, disse na ocasião. “Estou diretamente ligado e participando ativamente dos processos de fusões e aquisições. É parte importante da nossa estratégia desde 2012.”


O outro lado da moeda

Porém, nem tudo são flores. Segundo levantamentos da RGS Partners, apenas 30% dos M&As são concluídos – os outros 70% são interrompidos por divergências encontradas durante o processo de due diligence, no qual uma ampla gama de documentos e informações financeiras é analisada para avaliar o risco da aquisição.


De acordo com Guilherme Stuart, sócio da boutique especializada em fusões e aquisições, os aspectos comerciais da negociação, como preços e condições contratuais, são as principais dificuldades para que as operações sejam concretizadas.


“Podemos ter divergências sobre quais garantias serão dadas ou se a empresa será solidária com possíveis perdas. A aquisição pode não acontecer também por questões fiscais ou jurídicas”, afirma o especialista. “De modo geral, podemos dizer que há sempre mais motivos para um negócio não acontecer do que para ele ser, de fato, concluído.”


O processo de M&A dura, em média, seis meses, segundo estimativas do executivo da RGS Partners. Quando os trâmites são ágeis, esse tempo pode cair para quatro meses. Mas, se houver complicações, o período pode chegar a nove meses.


A etapa inicial do processo é a realização de um “infomemo” por parte da empresa que será vendida. “Trata-se de um memorando, um material de apresentação da companhia e sua tese de investimento, que será utilizado para a conversa com os investidores”, diz Stuart.


Com esse documento e outras informações financeiras e contábeis em mãos, o processo continua com uma avaliação pela empresa compradora, que articula uma proposta, descrevendo o preço e as condições da aquisição.


Durante todo esse caminho, a confidencialidade dos termos, os documentos e possíveis acordos devem ser preservados. “É preciso manter envolver poucas pessoas nesse processo, até para que não haja vazamento de informações”, afirma Stuart.


A partir do momento em que a proposta é aceita pela companhia que será adquirida, inicia-se a etapa de due diligence, no qual todos os documentos e informações apresentados no início do processo serão confirmados e validados. “Paralelamente a isso, serão analisados, discutidos, desenhados e negociados todos os contratos. O mais importante deles é o de compra e venda”, diz o executivo.


Cenário incerto no pós-pandemia

O segundo semestre começou movimentado: em 1º de julho, a ICL concluiu a aquisição da divisão agrícola da Compass Mineral América do Sul por R$ 2,2 bilhões. Mesmo assim, Stuart é cauteloso com as previsões. “O cenário brasileiro é cheio de incertezas se comparado com mercados desenvolvidos, o que pode ocasionar um volume menor de M&As.” O sócio da RGS afirma ainda que o período eleitoral é outro agravante. “Diante das eleições, o próximo ano será ainda mais volátil e o mercado poderá entrar em compasso de espera”.


Marcela, por outro lado, mantém o otimismo. “Haverá uma tendência de crescimento no número de transações devido a processos de reestruturação, vendas de ativos e também fusões de empresas que estavam em ‘stand-by’.” Para ela, os próximos meses vão registrar atividade constante nos setores financeiros e de seguros, bem como de tecnologia e internet. “Além desses fatores, as perspectivas positivas para 2021 dependerão também da rapidez da vacinação no Brasil e da estabilidade dos fenômenos macroeconômicos, entre outros efeitos que podem gerar estabilidade no cenário de investimentos”, diz.


Publicado em: forbes.com.br

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