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O que deu errado para a UnitedHealth


Há uma década no Brasil, a americana UnitedHealth Group (UHG), maior empresa de saúde do mundo, não deslanchou desde que chegou ao país no fim de 2012, quando comprou 90% da operadora de planos de saúde Amil por US$ 4,9 bilhões. Entre 2012 e 2021, a operadora apurou resultados negativos em seis anos. Se somados, o prejuízo seria de R$ 1,7 bilhão. Já o lucro acumulado nesse período é de apenas R$ 712 milhões. Essa performance está muito abaixo do esperado para uma companhia que chegou ao Brasil com uma expectativa alta. Na época da aquisição da Amil, o então CEO da UnitedHealth Group, Stephen J. Hemsley, informou em comunicado que a aquisição era “a oportunidade de crescimento e criação de valor mais atraente que vimos em anos” diante da combinação de um país com 200 milhões de pessoas, baixo número de usuários com plano de saúde, liderança da Amil no setor e a “experiência e capacidade do UnitedHealth Group desenvolvidas nas últimas três décadas”. Procurada ontem, a UnitedHealth Group Brasil não quis comentar o desempenho dos últimos dez anos. Segundo fontes, a falta de autonomia dos executivos brasileiros para tocar o negócio foi um dos motivos que levaram a operação brasileira a patinar todos esses anos, combinada ao desconhecimento dos americanos sobre como funcionava o mercado brasileiro de saúde. “Até hoje, eles não entendem que hospital verticalizado não é Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização]”, disse um ex-executivo do grupo. Em operadoras com rede própria, o hospital não é gerador de receita, funciona para controlar custos médicos. Além dessa falta de autonomia, relativamente comum em multinacionais, a performance da Amil também é fruto de decisões erradas tomadas pelo time local. A mais emblemática foi o descredenciamento dos hospitais da Rede D’Or, em 2019. Na época, a Amil perdeu em três meses cerca de 600 mil usuários, em especial do Rio de Janeiro, onde a D’Or é a principal rede. Esses clientes migraram para as seguradoras Bradesco e SulAmérica, que ofereceram planos mais atrativos e até hoje poucos desses usuários retornaram à Amil. “Decisões erradas em saúde podem levar anos para ser corrigidas”, disse uma fonte do setor. O grupo passou por várias mudanças na liderança que também atrapalharam a adoção de uma estratégia linear. Nos últimos cinco anos, a companhia foi dividida em áreas: operadora de planos de saúde e dental, hospitais e tecnologia aplicada à saude. Alguns dos executivos permaneceram apenas um ano.


O atual imbróglio é o repasse da carteira de planos de saúde individuais, com cerca de 340 mil usuários. O processo de transferência societária para um grupo de investidores formado por Fiord Capital, Seferin & Coelho e Henning Von Koss foi barrada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) devido à falta de documentação e uma avalanche de reclamações de descredenciamento. Em meio a esse polêmico processo, surgiram ainda boatos que a UHG pretende sair do Brasil. O grupo nega essa intenção e diz que o projeto no país é de longo prazo. Caso decida encerrar a operação brasileira, o grupo terá que fazer uma baixa contábil relevante, uma vez que o investimento realizado no Brasil é maior do que as projeções de “valuation” da companhia. Essa baixa contábil geraria pressão dos investidores do grupo americano, o que poderia levar à crença de que a saída está fora do radar. Mas ao mesmo tempo há um histórico de grupos estrangeiros de saúde como Aetna e Cigna que deixaram o país com prejuízos. Grupos de pesquisa da USP e da UFRJ divulgaram nota técnica este mês afirmando que a possível saída do UnitedHealth Group do país “é inequívoco alerta sobre a precariedade da privatização da saúde no Brasil. Insegurança jurídica e dificuldades de adaptação são jargões de um mercado cujas regras ficam sujeitas ao sabor de negociações políticas e acordos burocráticos, visando facilitar aquisições e venda de planos com menos garantias assistenciais.” A Amil vem perdendo mercado há alguns anos. Segundo relatório do Itaú BBA, entre 2016 e 2018, o “market share” da operadora caiu de 8% para 6%. “Do ponto de vista geográfico, a empresa perdeu terreno para players verticalizados e cooperativas médicas em quatro das cinco mais importantes regiões metropolitanas para o grupo Amil. E, apesar da empresa ter uma sólida infraestrutura [rede própria], suas taxas de sinistralidade têm sido superiores aos de algumas operadoras totalmente não verticalizadas, o que significa que a Amil está operando com rentabilidade muito limitada”, destaca relatório do banco.

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