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MGC compra Credigy e se torna terceira em recuperação de ativos



A MGC Holding, especializada em recuperação de crédito, vai se tornar a terceira maior do setor com a aquisição da Credigy Brasil, filial da subsidiária de crédito “distressed” do National Bank of Canada. Segundo o sócio do grupo brasileiro, Eduardo Martins, com a aquisição a holding passa a deter R$ 40 bilhões em direitos creditórios e 19 milhões de contratos. A carteira faz ainda a casa ser a maior gestora independente, ou seja, não vinculada a bancos, de ativos estressados de consumo do país.

A MGC não divulga valores da operação, por restrições do regulador do Canadá, mas Martins pondera estar em linha com os parâmetros de negociações recentes. Em 2016, o Itaú Unibanco adquiriu 89,08% da Recovery por R$ 640 milhões. Com a compra, o banco obteve um portfólio de R$ 38 bilhões em valor de face à época. Há dois anos, o Bradesco adquiriu 65% da RCB Investimentos, que atua na gestão de carteiras “distressed”. O negócio foi firmado por R$ 224 milhões, segundo fontes do mercado à época. O valor de face da carteira da RCB era de R$ 20 bilhões.

A recuperação de crédito movimenta R$ 40 bilhões ao ano no país. O tamanho total do mercado de dívidas em aberto no Brasil, tanto de pessoas físicas quanto jurídicas, alcança R$ 600 bilhões, segundo dados do Banco Central. Mas, se forem somados débitos mais antigos, considerados perdidos, dos últimos 15 anos, o montante pode alcançar R$ 1 trilhão.

Nas operações do gênero, as carteiras de empréstimos inadimplidos, ou seja, aqueles considerados perdidos pelas instituições são compradas pelas empresas especializadas.


Os valores, em geral, situam-se a partir de 3% do valor de face. O sócio da MGC cita o caso de um usuário de cartão de crédito inadimplemente para ilustrar a dinâmica do setor. “Uma pessoa que não consegue pagar o cartão de crédito pode ficar negativada por anos, mas uma hora os bancos precisam se livrar dessas provisões e limpar o balanço”, explica. As instituições então fazem os leilões das carteiras. “Após dar baixa na contabilidade, o banco consegue abrir capital e espaço de Basileia para fazer mais empréstimos”, diz. “Além disso, gera base de crédito fiscal importante na cessão”, diz.

As recuperadoras, que adquiriram as carteiras, “não têm o menor interesse em prolongar a negociação e querem resolver o mais rápido possível”. Desse modo, “qualquer proposta do devedor normalmente é aceita”. Os descontos podem alcançar até 90% da dívida original. Os recebíveis são então repassados a um fundo de investimento em direitos creditórios (Fidc).

A Credigy, conta Martins, tem operações nos Estados Unidos, Canadá, Europa e América Latina. “Em 2001, eles aportaram no Brasil quando os bancos ainda nem falavam de recuperação de crédito”, afirma o executivo.

Durante muitos anos, a Credigy foi líder do setor, mas acabou sendo ultrapassada por gestoras associadas aos bancos, como a Recovery que reúne um portfólio de R$ 90 bilhões em valor de face. O sócio da MGC explica que naquele ano, “a direção da empresa canadense decidiu focar mais na Europa e EUA e tiraram um pouco o pé na América Latina”.

A conversa para a aquisição da Credigy no Brasil levou mais de um ano. “A negociação demorou um pouco dada a complexidade da carteiras deles”, explica Martins. Com a aquisição, a nova operação vai ser rebatizada. A marca vai se chamar Crediativos, especializada em crédito estressado de consumo, como cartões de crédito, CDC e auto.

A holding MGC, pondera Martins, “não olha só dívidas de consumo, temos uma operação forte no mercado corporativo, além de trabalhar em reestruturação de empresas”. Segundo o executivo, o grupo, por exemplo, assume empreendimentos imobiliários paralisados. “Nós terminamos a obra, resolvemos o problema dos bancos e consumidores finais.” A MGC também atua no financiamento de empresas em dificuldades financeiras, com reperfilamento da dívida. A empresa tem operação ainda na aquisição de precatórios. Martins enxerga potencial de crescimento do mercado de ativos estressados por conta da pandemia. “Esse mercado, sobretudo o de consumo, é contracíclico, quanto pior a economia, maior a oportunidade” afirma.

Nas contas do executivo, “baseado no incremento de provisões para devedores duvidosos que os bancos fizeram neste ano, o mercado de ativos estressados pode crescer 30% a partir de 2021, ou seja, sair de R$ 40 bilhões em vendas de carteiras ao ano para R$ 60 bilhões.”

Tal avanço, na avaliação de Martins, deve representar uma mudança de patamar e não apenas um incremento circunstancial. “O volume de novas operações de crédito cresceu de forma significativa na pandemia com os programas de emergência, então o aumento de operações distressed tende a se tornar perene nos próximos três a cinco anos.”


Publicado em: valor.globo.com


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