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A fábrica de startups da Finvest está a todo vapor



A trajetória de boa parte das startups segue um roteiro bem conhecido. Criadas por empreendedores muitas vezes inexperientes, essas novatas caminham por um período com suas próprias pernas ou com o apoio de investidores-anjo.


À medida que ganham tração, elas passam a atrair a atenção e os aportes mais polpudos de fundos de venture capital. Esses, por sua vez, na maioria dos casos, passam a ter voz ativa na definição dos rumos e das estratégias da operação.


À frente da gestora brasileira de investimentos Finvest, Luis Cláudio Garcia de Souza é um contraponto a esse percurso tradicional. “Eu sou um company builder”, afirma o executivo de 68 anos. “Não somos um fundo que escolhe empreendedores. A maioria das empresas nas quais invisto eu começo do zero.”


Com ampla bagagem no setor financeiro e no mercado de capitais, e ex-conselheiro da BM&F Bovespa, Souza começou a desenvolver essa abordagem nos setes anos em que foi sócio do Pactual – que depois veio a se tornar o BTG Pactual.


No banco, criou e foi o CEO da RB Capital, que atuava na originação de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e debêntures, e da UBF Seguros, seguradora de títulos e créditos. As duas companhias foram vendidas para a japonesa Orix e para a suíça Swiss Re, respectivamente.


Quando decidiu deixar o Pactual, em 1999, foi também com os suíços da Swiss Re que fundou, no ano 2000, uma joint venture, a companhia de private equity Rio Bravo Investimentos. Oito anos depois, ele se desligou da empresa para criar a Finvest.


“Resolvi sair para me concentrar apenas em negócios de crédito”, explica Souza. “Até mesmo por entender que o crédito tradicional dos bancos era muito ineficiente e que havia muito a explorar nesse campo.”


O novo caminho começou a ser desenhado muito antes do surgimento das chamadas fintechs. E, apesar de concorrer com serviços ofertados tradicionalmente pelos bancos, Souza entende que sua proposta se diferencia de muitas das startups que integram essa vertente.


“É menos radical. Não estamos criando um novo banco”, explica. “Nosso foco são as ineficiências dos bancos tradicionais na oferta de crédito. O que eles fazem de errado, vamos fazer direito, mais rápido e mais flexível.”


Sob essa visão, o portfólio da Finvest é composto atualmente por empresas como a Augme Capital, gestora de fundos de crédito estruturado, e a Captalys, gestora de crédito corporativo.


Com recursos de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FDICs), a Captalys oferece empréstimos diretos e desenvolveu uma plataforma de crédito como serviço, utilizada por clientes de setores variados. Hoje, a empresa tem cerca de R$ 11 bilhões sob gestão, dos quais, aproximadamente R$ 9 bilhões de terceiros.


No comando

A Captalys reforça outro componente da tese de Souza e da Finvest: a participação ativa na gestão dos negócios criados. Desde a fundação da empresa, em 2010, até 2016, ele ocupou o cargo de CEO da empresa, da qual, até hoje, é presidente do Conselho de Administração.


“Sou um CEO que não pode ser demitido”, diz, bem-humorado, Souza. Brincadeiras à parte, ele destaca algumas vantagens do modelo proposto pela Finvest na comparação com fundos tradicionais de venture capital.

“Sou um CEO que não pode ser demitido”, diz, bem-humorado, Souza

“Não preciso retornar o que foi investido em cinco ou sete anos. E nem tenho a preocupação de rentabilizar imediatamente a operação”, afirma, ressaltando que investe, basicamente, o seu dinheiro e de alguns sócios que seguem a mesma linha de pensamento.


“Não tenho pressa de sair do negócio. Nunca criei uma empresa para necessariamente vendê-la, embora isso já tenha acontecido”, observa. “Posso dosar as estratégias, de forma comedida e racional, sem ter investidores me cobrando crescimento.”


A mais nova empreitada da Finvest é um exemplo dessa mentalidade. Lançada em julho de 2018, a Credihome é uma plataforma digital para o financiamento de imóveis e que também oferece crédito com garantia imobiliária. Mais conhecida como hipoteca, essa vertente é bastante difundida em países como os Estados Unidos, mas ainda pouco explorada no Brasil.


“O crédito imobiliário ainda é pouco explorado no Brasil. O País tem o mesmo produto há 20 anos, só mudaram as taxas”, diz Bruno Gama, CEO e cofundador da Credihome, ao lado de Souza. “Há uma oportunidade clara na junção do crédito escasso e monopolizado pelos bancos.”


Em uma das frentes, a Credihome busca desburocratizar e agilizar a aprovação de crédito para a compra de imóveis. A partir de dados fornecidos pelo usuário, a plataforma simula o financiamento em todos os bancos, retornando ao cliente as opções disponíveis e gerenciando todo o processo. A aprovação que, em média, leva 45 dias no método tradicional, cai para cerca de dez dias nesse formato.


Para divulgar a ferramenta, a startup está conectada com cerca de 700 imobiliárias, 20 incorporadoras e 4 mil corretores. Nessa última ponta, a empresa tem o apoio da Newcore, outra startup do portfólio da Finvest.


Fundada também em 2018, a Newcore é uma espécie de “Uber do mercado imobiliário”. O aplicativo conecta corretores autônomos com potenciais compradores de imóveis e já reúne mais de 2 mil profissionais.


Ao mesmo tempo, a Credihome lançou no primeiro semestre sua oferta de financiamento, por meio de um FDIC próprio de cerca de R$ 35 milhões. A iniciativa se insere justamente na tese defendida pela Finvest.


“Estamos testando alguns produtos, de forma planejada e sem pressão”, diz Souza. “Como não há nada parecido no mercado, temos um certo tempo para fazer ajustes e preparar melhor o nosso ataque.”


Sob essa ótica, não são poucos os projetos em andamento. Entre os produtos já disponíveis está o Compra Garantida, pelo qual o cliente consegue colocar seu imóvel antigo como garantia na obtenção de crédito para financiar a entrada de sua nova residência.


No processo, o usuário tem um prazo de três anos para vender seu imóvel antigo. Nesse período, as parcelas do empréstimo com a Credihome têm um abatimento de 80%. E a empresa também oferece assessoria para a venda, com a participação da Newcore.


Outros produtos já lançados ou ainda no forno incluem recursos como a carência de três a seis meses para o pagamento das parcelas, a cobrança de taxas menores nos três primeiros anos dos financiamentos contratados e o financiamento de até 90% dos imóveis.


“Nossa ideia é compor uma prateleira de produtos de crédito para a cadeia imobiliária no Brasil”, diz Gama, que destaca a dobradinha com Souza. “Ele tem a experiência do mercado de capitais e do atacado. Eu venho mais do varejo, do cliente na ponta. Foi o casamento perfeito.”


A parceria já rende frutos. Em pouco mais de um ano de operação, a Credihome já gerou um volume de originações de R$ 2,7 bilhões.


Além do crédito

O foco de Souza, no entanto, não está restrito às empresas de crédito. Ele também tem dedicado parte de seu tempo e de seus investimentos a startups de saúde. E nessa área, sua atuação se aproxima mais ao formato de um fundo tradicional de venture capital.


No Brasil, Souza é o controlador da gestora FinHealth, que captou um primeiro fundo de R$ 160 milhões. Com aportes entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões, o portfólio de investidas prioriza modelos e negócios que ainda são pouco explorados no País.

O plano é captar R$ 1 bilhão. No radar, estão healthtechs com mais tração e cheques de R$ 100 milhões

O leque inclui a Mendelics, laboratório de análise genômica que tem o fundador da Totvs, Laércio Cosentino, como um dos investidores; a Placi, hospital de transição; a BioZeus, de biotecnologia; e a LifeMed e a Timpel, de equipamentos e softwares. A FinHealth estrutura agora um novo fundo. O plano é captar R$ 1 bilhão. No radar, estão empresas com mais tração e cheques de R$ 100 milhões.


Com sede em Boston (EUA), a Securitas BioFinance é a gestora controlada por Souza para investimentos em saúde no exterior. “Boston é o Vale do Silício da área de biotecnologia. É importante estar perto desse ecossistema”, afirma.

Por lá, o portfólio inclui a Iviva Medical, de medicina regenerativa, e a VirTech Bio, que desenvolve terapias para a preservação de órgãos e tecidos.

“Agora, estou me divertindo mais na área de saúde”, diz Souza. Fora do dia a dia tanto da Captalys quanto da Credihome, ele segue com apetite para investir e criar outros projetos. “Sou viúvo e sem filhos. Então, de certa forma, essas empresas são as minhas crias.”


Publicado em: neofeed.com.br


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