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Mercado de TI usa M&A como ferramenta do cotidiano



Em posição de destaque nos rankings de fusão e aquisição (M&A) de empresas, o mercado de tecnologia da informação (TI) brasileiro experimenta um saudável dinamismo nas transações envolvendo companhias nacionais. O segmento sente com menos intensidade os efeitos das crises econômica e política e players de peso do setor adotam o crescimento inorgânico como prática do cotidiano para promover a expansão rápida de negócios.

O movimento e as peculiaridades das operações de M&A no mercado brasileiro de tecnologia foi tema do primeiro seminário promovido pela Transactional Track Record (TTR). Nos últimos cinco anos, cerca de 70% das transações nesse segmento realizadas na América Latina aconteceram no Brasil. Wagner Rodrigues, diretor de pesquisa da TTR, destaca que, diferente do padrão regional, a vasta maioria dos negócios em território brasileiro são realizados entre companhias domésticas. "Quando olhamos México, Chile, Argentina, etc, o Brasil é o único país da América Latina em que as transações locais predominam", observa.

Enquanto no segmento de TI de países vizinhos as companhias estrangeiras compram as locais, o Brasil registrou apenas 26% de aquisições inbound (realizadas por empresas não nacionais). Os outros 74%, segundo os dados da TTR, foram de operações domésticas. A proporção se repete nas operações envolvendo fundos de venture capital (78% e 22%) e private equity (64% e 36%).

As transações nesse segmento do mercado brasileiro movimentaram R$ 6,6 bilhões no ano passado e a maioria dos negócios registrados (40%) se tratou de aquisição total de participação societária. No quesito valor, 32% das empresas adquiridas foram avaliadas em mais de R$ 120 milhões e outros 32% foram precificadas abaixo de R$ 20 milhões.

Declínio leve

As empresas de softwares lideram o ranking das mais adquiridas e as projeções para o ano de 2018 é de que a tendência se repita. Embora o volume de operações no setor registradas entre janeiro e junho deste ano esteja em queda de 8%, o indicador é inferior aos 13% de queda medidos em toda a América Latina. Em números absolutos, 119 deals no segmento já foram contabilizados pela TTR no primeiro semestre do ano apenas no Brasil.

Apesar do cenário de incertezas políticas e econômicas agravados pela aproximação das eleições de outubro, executivos de players importantes do setor observam que a oferta de recursos para o financiamento de operações de M&A em TI não foi significativamente afetada. "Os bancos estão com dinheiro sobrando para o mercado de TI", constatou Dennis Herszkowicz, vice-presidente executivo da Linx.

O executivo de uma das maiores companhias do ramo na América Latina pondera que, apesar de cenários de crise provocarem uma queda nos preços de ativos, é fundamental ter clareza sobre o que a empresa alvo trará de benefícios ao negócio. "Aí vem a nossa disciplina de comprar o que é de fato necessário e interessante", argumenta Herszkowicz.

Estratégia agressiva

Apesar do discurso cauteloso frente às liquidações do mercado de M&A, a Linx desenvolveu uma estratégia peculiar nas operações em que se envolve. A companhia realizou 27 aquisições nos últimos dez anos e formou uma equipe interna para conduzir essas transações.

Herszkowicz descreve o crescimento inorgânico como parte do dia-a-dia da companhia. Esse time realiza boa parte da due diligence e conduz as negociações com firmeza, especialmente no que tange as proteções da Linx frente a possíveis riscos.

Em uma posição de liderança no mercado, o vice-presidente conta que a companhia costuma adotar mecanismos de proteção agressivos. Entre as medidas adotadas estão a assinatura de memorandos de entendimento (MoU) vinculantes apenas para a parte vendedora, a responsabilização do vendedor por todas as perdas que possam decorrer de eventos ocorridos até a data da compra e a retenção de recursos para a cobertura de riscos em uma conta da própria Linx, não em uma típica conta de escrow.

Herszkowicz reconhece que convencer o vendedor dessas condições não é tarefa simples e que só tem a capacidade de exigir graças a sua posição no mercado.

Com uma estratégia mais conservadora, Cássio Moura, diretor financeiro da Logicalis Latin America, também destaca o bloqueio de passivos oriundos do passado e adoção de cláusulas de escrow como medidas de proteção para a adquirente. O executivo, no entanto, acredita que oportunidades devam ser constantemente monitoradas no mercado e que períodos de crise devem ser usados como uma vantagem competitiva. "Uma crise pode ajudar muito, mas ela pode vir para no seu lado", alerta.

Moura também destaca o apetite dos bancos para financiar a aquisição de companhias em tecnologia e observa que a diligência feita pelas instituições financeiras para determinar prazos de pagamento são detalhadas ao ponto de servirem como validação da própria estratégia de aquisição da Logicalis.

Operações no horizonte

A Logicalis também adota o M&A como ferramenta de expansão regional e anunciou negócios no Chile e no Peru recentemente. A estratégia é similar à adotada para o crescimento da Stefanini, que está empenhada na sua quarta tentativa de aquisição no mercado chinês. O alvo deve ser uma companhia de médio porte, o que para os padrões do gigante asiático pode se tratar de números robustos.

Novas operações também estão no radar do Grupo Sonda, cujo comitê de M&A interno se prepara para encerrar o último período de aquisições e iniciar o planejamento do próximo ciclo trienal de investimentos.

Publicado em: Lexis

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